Posted by Renascença | Posted on 09:57
Pedro Martins Barata, negociador português em Copenhaga e membro do Comité Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, defende que é preferível criar as condições em Copenhaga para que seja possível aprovar um acordo reforçado sobre o clima em 2010. ouvir aqui a entrevista
Já foi admitido à partida que não vai sair de Copenhaga um acordo jurídico, mas no máximo uma espécie de entendimento ao nível politico. Isso é suficiente?
O clima não fica pior por adiarmos a constituição do regime climático um ano, desde que as metas definidas sejam mais eficazes, que o sistema seja mais robusto e que os volumes de financiamento acordados sejam efectivamente maiores. Se quisermos pressionar para haver um acordo em Copenhaga corremos o risco de termos um acordo que é muito menos ambicioso e, por consequência, que cumpre menos aquilo que é necessário. E o que é necessário é um entendimento que instaure um regime climático que nos permita atingir metas de redução muito mais fortes e muito mais ambiciosas do que aquelas que temos actualmente.
Há o exemplo do Protocolo de Quioto, que deixou de fora aquele que era na altura o maior poluidor mundial…
Exacto. Ninguém quer uma repetição de Quioto, com um acordo fraco ou um acordo que até possa ser muito ambicioso, mas em que os EUA roam a corda. Temos de ser realistas e tentar ver o que é que pode ser, efectivamente, conseguido em Copenhaga, mas não vamos seguir a via de ter um entendimento negocial, total e completo, se isso impedir a possibilidade de um acordo mais ambicioso daqui a seis meses ou um ano.
Aquilo que vai ter de ser feito é criar um espaço para todos respirarmos fundo. Por exemplo dar possibilidade aos EUA para, internamente, irem mais longe e conseguirem definir bem a sua política doméstica de alterações climáticas. [A legislação está neste momento empatada no Senado.]
O que é que deve constar então de um eventual acordo em Copenhaga?
Neste momento é preciso condensar, de tudo aquilo que está cima da mesa, as mensagens mais importantes que Copenhaga tem de ter. Provavelmente estabelecer uma meta global a longo prazo para 2050, uma meta de médio prazo para 2020, e criar uma extensão do actual processo negocial, que nos permita chegar a meados do próximo ano ou, eventualmente, à próxima conferência em Novembro, no México, com uma nova disponibilidade para negociar.
Porque é que foi tão demorado para a União Europeia chegar a um acordo sobre o pacote financeiro para os países em desenvolvimento?
A União Europeia mudou desde o Protocolo de Quioto para cá. A UE negociou Quioto como um bloco de 15 países, todos eles diferentes em termos de estado de desenvolvimento. Na altura, Portugal era o país mais pobre. Hoje, temos oito países substancialmente mais pobres do que Portugal. Nesse sentido, quando se pede um esforço de financiamento acrescido e muito superior àquilo que foi negociado no Protocolo de Quioto, é natural que haja resistências, ainda para mais numa época de crise económica e financeira. E essa relutância é ainda mais acrescida por parte desses novos países.
Isso quer dizer que o debate político está assente sobre dados desactualizados?
Infelizmente, a ciência está a evoluir mais depressa do que o próprio processo político. Isto tem implicações, porque considero que o próprio processo político tem de mudar. Temos um processo político em que, de ano a ano, reunimos a nível ministerial. Temos actualmente um regime climático que é pensado a 5 ou 6 anos, e temos de pensar num regime climático a 20 ou 30 anos. Para isso precisamos de ter uma fórmula para rever periodicamente - e mais vezes do que aquilo que temos feito - as nossas próprias metas. Isto para perceber se aquilo que tínhamos pensado que era o consenso científico há três anos ainda se mantém.
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