Francisco Ferreira : "Portugal vai precisar de um plano a dez anos"

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Posted by Renascença | Posted on 18:45

Veterano das conferências climáticas, Francisco Ferreira está em Copenhaga na delegação da Quercus, uma ONG que tem estado sempre integrada nas delegações da sociedade civil. Reflectindo sobre os possíveis resultados da cimeira, o histórico dirigente da Quercus diz que Portugal vai ter que fazer várias revoluções para cumprir as proximas metas. Mas há também que explicá-las. Para já, as ONG's estão preparadas para um cenário de acordo político em Copenhaga.


RR: Para as ONG's um acordo político é um mal menor ?
FF: Penso que em todas as conferências as associações têm apostado num mal menor. Uma negociação é sempre um mal menor, nunca as partes ficam completamente satisfeitas.

RR: As ONG's não vão pedir o impossível em Copenhaga ?
FF: As ONG's vão pedir aquilo que acham que devem pedir. Vão pedir efectivamente aquilo que, com base na ciência, sabemos que deve ser pedido. Claro que, como já dizem alguns peritos, há o eterno dilema de que mais vale a pena não haver um acordo - para forçar um mais ambicioso - do que ter um acordo extremamente frágil e longe das metas. Há aqui três palavras que para nós são cruciais: é preciso um acordo justo, ambicioso e vinculativo. Menos que isto, é um mau acordo. Se for suficientemente claro em termos das metas a atingir, dos financiamentos, das acções dos países em desenvolvimento, da protecção da floresta, se no fundo faltarem aspectos residuais, esperando pouco pelos Estados Unidos para o concretizar, aí penso que esse não é o problema. Exceptuando o facto de estarmos a três anos de terminar o primeiro período de comprimento do Protocolo de Quioto.

RR: E Portugal vai conseguir cumprir as novas metas europeias ?

FF: Em nosso entender, a União Europeia deve efectuar uma redução de 30% das suas emissões entre 1990 e 2020, principalmente à custa de medidas internas. Se isso suceder, precisamos de uma revolução energética e comportamental, da mentalidade de quem nos governa. As contradições têm que terminar. Nós continuamos a ter o recorde nos veículos mais eficientes e o recorde na oferta de auto-estradas e no número de quilómetros que acabamos por percorrer para transportar mercadorias e passageiros no modo rodoviário. Uma revolução energética é absolutamente fundamental ao tornarmo-nos menos dependentes dos combustíveis fósseis. E não é na electricidade, é na energia como um todo. Isso obriga-nos a reduzir consumos drasticamente, a mudar o nosso modo de vida, e não é a aposta nas renováveis que resolve , nem as barragens que representam 3% da electricidade. É algo muito mais ambicioso e sério. Precisamos de uma revolução comportamental, porque a população tem que perceber que há mudanças para fazer já. Estamos a 10 anos de ter que viver com uma fatia bastante maior de energias renováveis do que aquela ( 31%) que já temos neste momento fixada, se a redução for de 20%. As implicações sociais e ambientais serão por certo extremamente positivas. Mas há que explicar e saber discutir esta revolução. Se a União Europeia decidir avançar com 30%, 2010 obrigar-nos-há a fazer um plano a dez anos, como se calhar nunca conseguimos fazer em termos de energia, de comportamentos e de investimentos.





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